segunda-feira, 22 de novembro de 2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Música No. 7 - O Cego de Amor




O cego vai à casa da donzela, sua amada,
E, sem perder tempo, diz a ela à entrada:

E diz o cego:


— Donzela, abre a porta
Ao cego perdido;
Deita-me um lenço,
Que venho ferido.

E diz a donzela:

— Se tu vens ferido,
Venhas, embora;
A porta eu não abro,
Não dou lenço agora.
Venha, minha mãe,
Venha cá ouvir,
Um cego tão belo
Cantar e pedir.

A mãe vê aqui uma oportunidade
Para educar a filha na caridade.


— Se ele canta e pede,
Dá-lhe pão e vinho,
E ao pobre cego
Ensina o caminho.

E diz o cego:

— Eu não tenho sede,
Nem quero beber;
Preciso de guia
Pra não me perder.

E a mãe insiste:

— Oh! Vai, minha filha,
Pega na meada
E ao pobre cego,
Ensina a estrada.

A filha, resignada,

Decide guiar o cego pela estrada.

E diz a filha:


— Adeus, minha aldeia,
Tão querida e amada;
Adeus minha mãe,
Vou ser desgraçada.

E diz o cego:

— Por Deus, ó donzela,
Não vertas o pranto;
Segue o pobre cego,
Que te ama tanto.

Aqui a donzela usou de argumento,

para saber se era amor verdadeiro,
ou apenas atrevimento.

E diz a donzela:


— Dizes que me amas,
Não o posso crer,
Pois sendo tu cego,
Como me hás-de ver?

E diz o cego:

— Com os olhos da alma
Por Deus, Nosso Senhor,
Segue e acompanha
O cego de amor.

E foram os dois.

Seguiram os dois
Pela estrada adiante,
Sem querer descansar
Sequer um instante.

Depois disse o cego:
— Queres ser minha amada?
— Sim! — Disse a donzela,
Meio atrapalhada.

Passados oito dias,
(Oh! Que esplendor!)
Casou-se a donzela
Com o cego de amor.

Prolepse - Cego de Amor (teste) (2010)






As estrofes a cinzento escuro são o poema O Cego de Amor propriamente dito. Extraído de uma edição de bolso e com o português modernizado, é, todavia, parte integrante do Romanceiro Português.
As passagens a cinzento claro são acrescentos meus.